quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Noturno à janela do apartamento



Noturno à janela do apartamento

Silencioso cubo de treva:
um salto, e seria a morte.
Mas é apenas, sob o vento,
a integração da noite.

Nenhum pensamento de infância
nem saudade nem vão propósito
Somente a contemplação
de um mundo enorme e parado.

A soma da vida é nula
Mas a vida tem tal poder:
na escuridão absoluta,
como líquido, circula.

Suicídio, riqueza, ciência...
A alma severa se interroga
e logo se cala. E não sabe
se é noite, mar ou distância.


Triste farol da ilha Rasa.

Carlos Drummond de Andrade

Foto de arquivo particular de Sônia Vianna Landeo, para reprodução, favor solicitar pelo comentário com nome e e-mail.

Um comentário:

Marinez Gentil Frada disse...

Eis o nosso grande Drummond com suas indagações existenciais e filosóficas.Excelente escolha de texto.